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Além da Serotonina

 

O sonho da pílula da felicidade persegue a humanidade desde a Grécia antiga, mas foi só na década de 80 que ele começou a ser vendido em farmácias. Embora vários tipos de antidepressivo já estivessem no mercado antes disso, a chegada da fluoxetina, mas conhecido como Prozac, foi um marco na história da indústria farmacêutica. Duas décadas depois, ele ainda é de longe, o antidepressivo mais usado de todos os tempos, tendo sido prescrito para cerca de 54 milhões de seres humanos..

Sem duvida o fenômeno Prozac ajudou a popularizar a depressão. “Nos anos sessenta e setenta as pessoas procuravam os médicos porque estavam “nervosas” ou “angustiadas” hoje a legião de deprimidos inclui até as crianças e animais de estimação.

Além disso, o Prozac contribuiu para difundir a idéia do desequilíbrio químico como causa dos estados alterados de humor. Como seu mecanismo de ação mira um único neurotransmissor – a serotonina -, ficou fácil explicar as bases neurobiológicas da depressão e de seu aparente antônimo, a felicidade.

Essa idéia, é simplista e ultrapassada, garante o psiquiatra David Healy, da Universidade de Cardiff, autor de Let them eat Prozac (New York University Press, 2004). Ele estudou a relação entre serotonina e depressão por mais de uma década e não encontrou evidências suficientes para sustentar a tese do desequilíbrio químico no cérebro dos deprimidos. Que o aumento dos níveis de serotonina diminua os sintomas de depressão (exatamente o que o Prozac faz ao impedir a recaptação desse neurotransmissor na fenda sinaptica) não significa que a etiologia do distúrbio esteja esclarecida. Vários outros neurotransmissores, entre eles dopamina, noradrenalina e beta-endorfinas, desempenham papéis importantes, se não fundamentais, na sensação de bem-estar e prazer.